Investigador considera que política climática é das mais fundamentadas
Desde que, no final do século XIX, o sueco Svante Arrhenius inventou o termo "efeito de estufa", milhares de cientistas têm estudado as mudanças no clima. A mais recente novidade é o relatório do IPCC apresentado hoje em Paris. Na verdade, poucos são os processos de decisão política acompanhados por tanto trabalho científico, diz um investigador português que estuda a biodiversidade e o clima.
Miguel Araújo, investigador do Museo Nacional de Ciências Naturais de Madrid e investigador associado da Universidade de Oxford, lembrou, em declarações ao PUBLICO.PT, que "poucos são os processos de decisão política que foram acompanhados por tantos estudos e tanto rigor na quantificação da incerteza".
As alterações climáticas — reconhecidas pela opinião pública internacional — têm sido acusadas pela classe política de alguns países de terem insuficiente sustentação científica. Este foi um dos argumentos usados em Março de 2001 pelo Presidente George W. Bush para se recusar a ratificar o Protocolo de Quioto, única ferramenta internacional para mitigar os efeitos das alterações climáticas.
Hoje, o Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC) apresentou o resultado do trabalho de centenas de cientistas sobre a evolução do conhecimento sobre o fenómeno.
"Este é um processo longo. Depois da parte técnica estar pronta, os relatórios são discutidos pelos governos e depois aprovados pelos Estados. Tudo isto influencia o resultado final", explica Miguel Araújo, professor associado convidado da Universidade de Copenhaga.
"Em ciência é difícil fazer afirmações inequívocas porque o mecanismo de aquisição de conhecimentos não é o da confirmação de hipóteses mas sim a sua desqualificação". O que tem acontecido com as alterações climáticas é que "a hipótese de aumento da temperatura do planeta tem passado por vários estudos e não tem sido desqualificada".
"A questão que se coloca é o que fazer perante a crescente evidência de que o clima está a mudar e que as causas dessa mudança não são independentes das actividades humanas", considera.
Miguel Araújo afirma ainda que este novo relatório "lança um alarme e um sinal aos políticos; um certo sentido de urgência".
in Publico, 03-02-2007
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