quarta-feira, fevereiro 14, 2007

Bacalhau bicarbonatado

Segundo um recente artigo publicado na Nature, os fundos oceânicos são um reservatório de CO2 antropogénico com tempos de residência bastante superiores ao que se pensava. Até agora, pouco se conhecia acerca do papel das águas profundas no ciclo do carbono enquanto sumidoiro. Os autores deste artigo baseiam-se em dados compilados ao longo de décadas, confrontando a evolução do carbono inorgânico com o pH, nutrientes dissolvidos, oxigénio e outros factores. Ao que parece, sugere-se um mecanismo de dissolução superficial seguido de transporte em profundidade, conduzindo a um estado mais subsaturado das águas superficiais em relação ao CO2 e consequente remoção de mais CO2 atmosférico, repetindo-se os processos referidos ciclicamente.
Gostaria de ler o artigo por duas razões:
a) Como é feito o transporte em profundidade;
b) Se foi quantificada a evolução supersaturação de águas superficiais em relação ao CO2 atmosférico e/ou para águas profundas; em função do tempo.
De resto, as consequências destes factos nos ambientes marinhos são conhecidas. Diminuição rápida do pH e más notícias para a malta que lá vive.
Não entendo porque refere a Nature que isto são boas notícias para a redução do risco de alteração climática. Necessitaria ler o artigo para conhecer a velocidade de resposta do sistema. A verdade é que, alterando as propriedades fisico-químicas da água do mar, serão afectadas importantes correntes de fluxo térmico, como a NADW. Até que ponto... isso é investigação que, certamente, estará a decorrer.
Outro facto é que o clima está a mudar no sentido da subida da temperatura média global, e são 3Gt/ano de CO2 da nossa responsabilidade que todos os anos entram no ciclo, via atmosfera.

2 comentários:

Rui M disse...

a mim preocupa-me o que vai acontecer quando essa água voltar á superfície, daqui a uns anos, com CO2 extra adquirido devido ao aumento da dissolução de carbonatos em profundidade...

André Pinto disse...

É necessário conhecer com detalhe os percursos de reacção nos oceanos, o que ainda não se verifica.

A ascensão de águas com CO2 extra pode ter vários destinos, dependendo de outros factores, como seja o da temperatura das águas superficiais, pH, productividade orgânica, etc. De todos esses destinos possíveis, não há nenhum que se me afigure como semelhante ao que hoje observamos e estou convencido que seriam catastróficos.