sábado, junho 08, 2013

Como fechar um Oceano?



Uma questão ainda pendente no seio da teoria da tectónica de placas é como se inicia o fecho de um Oceano? É relativamente aceite pela comunidade científica que o movimento das placas listosféricas é responsável pela ruptura de supercontinentes e pela formação de novos Oceanos, como foi o caso da fracturação da Pangeia e subsequente formação do Atlântico. Oceanos estes que acabarão um dia por fechar. Este ciclo de criação e destruição de oceanos é  denominado Ciclo de Wilson.

Após sua formação nos ríftes, e com o passar do tempo, a litosfera oceânica arrefece e torna-se mais densa do que o manto subjacente. Consequentemente, passados alguns milhares de anos esta torna-se graviticamente instável e tende a colapsar no manto, num processo denominado subducção. É o processo de subducção, através da força de slab-pull, que leva os continentes a entrarem novamente em rota de colisão formando novos supercontinentes. Para que tal ocorra é necessário que as margens passivas dos continentes se tornem activas, ou seja, é necessário que novas zonas de subducção se formem. No entanto, à medida que arrefecem, as placas oceânicas também se tornam mais resistentes à deformação, tornando improvável o processo de fracturação espontânea (isto é, ao início de subducção exclusivamente devido à gravidade) das margens passivas.

Um modelo alternativo considera que, ao invés, as zonas de subducção podem propagar-se de um oceano para outro, como parece ter sido o caso das zonas de subducção dos arcos da Nova Escócia e das Pequenas Antilhas, dois exemplos de propagação do Oceano Pacífico (repleto de zonas de subducção) para o Oceano Atlântico (um oceano dominado por margens continentais não activas).

Num artigo recente, subscrito por uma equipa de cientistas da Austrália, Portugal e França, e publicado na revista Geology, é sugerido, com base num novo mapa tectónico de grande detalhe, que uma nova zona de subducção se está a formar na frente do Arco de Gibraltar e a propagar ao longo da Margem Oeste Portuguesa. Esta potencial zona de subducção poderá ser a percursora de um sistema de zonas de subducção Atlânticas que, em conjunção com os outros arcos referidos, poderá levar ao seu fecho. As evidências apresentadas sugerem ainda que a formação de novas zonas de subducção em margem passivas poderá ser um processo invasivo que terá um papel crucial nas fases finais do Ciclo de Wilson.


Aqui está o link para o artigo: 

Are subduction zones invading the Atlantic? Evidence from the southwest Iberia margin. Por João C. Duarte, Filipe M. Rosas, Pedro Terrinha, Wouter P. Schellart, David Boutelier, Marc-André Gutscher e António Ribeiro. Geology, 2013.


Imagem adaptada de Schellart and Lister (2004) and Duarte et al. (2013).