quarta-feira, janeiro 10, 2007

Para não esquecer...a Verdade

5 comentários:

Alma disse...

Por muita verdade que exista neste documentário faz-me confusão o conceito de Verdade.
Parece algo de dogmático.
A Inquisição e Nacional Socialismo, por exemplo, também se diziam donos da Verdade.

Saudações

joaosete disse...

Ninguém é dono da Verdade. Não creio sequer que essa seja a intenção deste filme e iniciativa. Baseia-se em factos "inconvenientes" e que por isso não são abordados como prioridade política. Mesmo que esses factos sejam largamente conhecidos e divulgados pelos "especialistas".

É curiosa a ligação com os movimentos citados, eu prefiro fazer outra. Galileu defendia ser Verdade que a Terra girava à volta do Sol...

João Moedas Duarte disse...

(...) Afirmar que o conhecimento tem valor intrínseco é outra maneira de dizer que a verdade
é um valor intrínseco. Pois conhecer é conhecer verdades — não há conhecimento de falsidades.
Claro que há crenças falsas e claro que por vezes pensamos que sabemos algo que não sabemos.
Mas é impossível saber uma falsidade — ninguém pode saber que a língua oficial de Portugal é
o castelhano, porque não é, mas algumas pessoas poderão pensar, erradamente, que é. Não basta
acreditar que algo é verdade para que seja realmente verdade; e não há processos automáticos
para saber o que é ou não verdade. As verdades descobrem-se de diversas maneiras, em função
do tipo de verdade em causa — por exemplo, os métodos particulares de prova na matemática
não são adequados na história, os métodos da história não são adequados na física e os métodos
da física não são adequados na filosofia. Claro que há zonas de contacto em todos estes casos;
poderá ser possível usar a matemática para provar um certo aspecto de pormenor da história do
antigo Egipto, por exemplo, mas não é em geral possível demonstrar matematicamente
resultados históricos importantes.

A verdade é um mito?
A verdade é um valor intrínseco porque sem a verdade nenhuma outra atribuição de
valor faz sentido. Valorizar a felicidade, por exemplo, pressupõe que é verdade que a felicidade
tem valor.
A verdade não é um conceito que possamos abandonar, como se pode abandonar o conceito
de flogisto ou do deus Apolo. A verdade não é uma ilusão da «modernidade», pelo simples
facto de que até para afirmar tal coisa temos de pressupor a noção de verdade — caso contrário,
não estaríamos a dizer uma verdade ao declarar que a verdade é uma ilusão. É, pois, incoerente
abandonar o conceito de verdade


Daqui não se segue que seja o que for que alguém, ou algum grupo, pensa que é verdade
é realmente verdade. Assim, os colonizadores europeus do séc. XVI podiam pensar que era
verdade que os indígenas americanos eram inferiores e não tinham direitos. Mas daí não se
segue que tal coisa fosse realmente verdade. E hoje sabemos que não é verdade. Nem é possível
criticar o colonialismo se abandonarmos o conceito de verdade, pois nesse caso não poderemos
dizer que é falso que os indígenas americanos eram inferiores e não tinham direitos.
A doutrina de que todas as verdades são relativas é insustentável por duas razões. Em
primeiro lugar, porque é incoerente: se todas as verdades são relativas, também essa doutrina é
uma verdade relativa. E se é uma verdade relativa, significa que é falsa para algumas pessoas,
nomeadamente para quem não aceita a doutrina. Em segundo lugar, porque é uma confusão entre as noções de verdade e de crença1. Claro que os colonizadores europeus do séc. XVI acreditavam
que os índios e os negros não tinham direitos. Mas do facto de acreditarem em tal coisa
não se segue que era realmente verdade; só se as pessoas fossem omniscientes é que todas as
suas crenças seriam verdadeiras — mas as pessoas não são omniscientes. Assim, nunca foi verdade
que a Terra esteve no centro do universo — mas durante muito tempo algumas pessoas
pensavam que isso era verdade. Dizer que foi verdade que a Terra estava no centro do universo
e que depois deixou de o ser é uma forma opaca e incorrecta de falar. Correctamente falando, o
que se quer dizer é que as pessoas acreditavam que a Terra estava no centro do universo, mas
depois descobriram que estavam enganadas.

Por outro lado, do facto de algo ser verdade não se segue que alguém tenha o direito de
o impor a outra pessoa, violando os seus direitos básicos. Se alguém quer acreditar que o Pai
Natal existe, deve ter a liberdade de o fazer, desde que não aja de modo a prejudicar outras pessoas2.
Uma motivação para abandonar a noção de verdade é uma incompreensão da noção de
tolerância. Quem é incapaz de compreender correctamente o que é a tolerância, pensa que não se
pode tolerar o que se sabe ou se acredita que é falso. Desse ponto de vista, teremos de abandonar
a ideia de que há realmente falsidades objectivas, para podermos dizer que as perspectivas das
coisas diferentes das nossas não são realmente falsas — são apenas perspectivas — e, como tal,
podem ser toleradas. Mas se tolerar fosse apenas tolerar o que sabemos que não é falso, a
tolerância não seria tolerância. Tolerar é tolerar que os outros pensem e façam o que consideramos
errado e incorrecto. Tolerar é reconhecer o direito a estar errado e não eliminar a própria
possibilidade de estar errado, declarando que não há verdades.

Estas observações sucintas sobre a verdade são necessárias porque pode haver a tentação
de orientar a política educativa por doutrinas «pós-modernas», que declaram que a verdade
é um mito3. Ora, a primeira vítima da ideia de que a verdade é um conceito obsoleto é a excelência
do ensino. Pois se pensarmos que não há verdades, não iremos valorizar as provas4 nem a
argumentação. E quando isso acontece, o ensino transmite ao estudante técnicas de supressão de
provas e de argumentos como se fossem técnicas de investigação legítimas: o estudante aprende A verdade e o conhecimento não são mitos. Nem são idênticos à mera crença — pois as
crenças podem ser falsas, mas nem há conhecimento falso, como vimos, nem as verdades podem
ser falsas, apesar de se poder pensar que é verdade o que de facto é falso. Para se valorizar o
esforço do estudo objectivo das coisas é preciso não se aceitar a ideia de que a verdade é um
conceito obsoleto. Pois se a verdade é um conceito obsoleto, tudo vale. E quando tudo vale,
ganha quem tem mais poder — político, económico ou retórico. Nesse caso, o debate nacional,
tanto público como escolar e académico, torna-se um mero jogo de forças. Só vale a pena o
esforço do estudo e do debate imparcial e objectivo quando concordamos todos que a verdade e
o conhecimento não são posse de ninguém; quando concordamos que do facto de pensarmos
que algo é verdade não se segue que é realmente verdade. Ora, abandonar o conceito de verdade
por ser pretensamente obsoleto é equivalente a declarar que seja o que for que alguém pensa é
verdade — pois se nada há que faça o pensamento de alguém ser verdadeiro ou falso, o que cada
pessoa pensa é verdade, pois «verdade» passa a querer dizer «o que cada pessoa pensa» e é
óbvio que o que cada pessoa pensa é o que cada pessoa pensa.(...)

texto de Desidério Murcho

Alma disse...

joaosete:
Tens razão, Galileu defendia como verdade a Terra girar em torno do Sol...e por isso sofreu por não ser essa a Verdade conveniente na época.
São apenas questões semânticas, podes afirmar, mas implicam e deixam inferir maneiras de pensar, que devem ser o mais tolerantes possível, seja na Ciência, Arte ou no simples comprar de um maço de tabaco.
Não existe uma Verdade.

João Moedas Duarte disse...

De facto o que o filme mostra é aquilo que algumas pessoas acreditam ser verdade. Do texto que fiz copy_paste pode entender-se que esta não é a verdade absoluta (real). Pode vir ou não a ser reconhecida como tal. No entanto o facto de existirem muitos dados que apontam no sentido de as alterações serem realmente causada por nós, deve-se obrigatoriamente aplicar o principio da precação (ver post anterior). O problema deve centrar-se na aplicação deste principio e não em tentar saber se este cenario é Verdade ou não. Se o tubo de ensaio em que vivemos explodir, depois aí saberemos que afinal era verdade, mas já não estaremos cá. Se aplicarmos o pricipio da precaução, pode ser que este cenário nem sequer venha a ser totalmente verdade. E aí óptimo! Esta atitude alarmista serviu para alguma coisa. Nem que seja para nos deixar de consciencia tranquila. O que andamos a fazer ao planeta e o legado que estamos a deixar às gerações futuras é nojento, estúpido e imoral. Sendo nós supostamente seres inteligentes (contra o qual eu estou em profundo desacordo) não deveriamos conseguir dormir todos os dias de consciencia tranquila. A verdade pode mudar, e ainda bem!