As dunas já não são como divãs, são coisas muito, muito mais caras
Educação
por Carlos Moreira Cruz (Professor Adjunto Equiparado do Departamento de CMD da ESE de Setúbal)
28-12-2006
As dunas já não são como divãs, são coisas muito, muito mais caras.
Neste mês fomos apanhados de surpresa pela notícia de que o oceano estava prestes a invadir o litoral de São João de Caparica, na freguesia da Costa de Caparica (Almada). Uns culparam o aquecimento global e a consequente elevação do nível médio das águas do mar, outros a falta de recarga de sedimentos do rio Tejo, devido à construção das barragens, outros ainda lembraram que a ocupação do nosso litoral não pode contrariar a tendência natural: a criação de uma espécie de baía na zona litoral da Costa de Caparica.
Tudo verdade, mas omitiu-se uma coisa importante. É que, desde meados dos anos 80, uma empresa de construção, proprietária da quase totalidade dos terrenos entre a Cova do Vapor e São João de Caparica, vedou as suas propriedades, incluindo caminhos públicos com séculos – tudo ilegal mas tudo consentido -, destruiu grande parte das dunas já quase mortas (vários estudos o referiam) – com autorização, suponho - para construir parques de estacionamento, e, mais tarde, fez grandes movimentações de terras na própria praia (?).
Ora dunas e praias são organicamente a mesma coisa. Para termos praias temos de ter dunas. Se destruímos as dunas destruímos as praias, se destruímos as praias destruímos as dunas. É de admirar que as dunas tenham sido quase submersas, depois de “comido” o areal?
Agora vamos a custos. Em meados dos anos 90 o preço de uma intervenção na praia para aumentar o areal ficava-se por um milhão de euros (200 mil contos em moeda antiga). Agora para resolver a situação tem que se gastar 10 a 15 vezes mais. E, ainda por cima, além de se tratar de uma intervenção cara e difícil, os resultados são relativamente imprevisíveis.
artigo em: Setubal na Rede
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