Alguns mamíferos conseguem cheirar debaixo da água
O «truque» está em lançar bolhas de ar que depois se inalam
Alguns mamíferos conseguem cheirar debaixo da água e assim detectar alimentos depositados no fundo dos rios ou lagos, graças à pr odução de bolhas de ar, indica um estudo hoje publicado pela revista Nature. O professor Kenneth Catania, da Universidade Vanderbilt de Nashville (Estados Unidos), fez a descoberta ao estudar o comportamento de duas espécies semiaquáticas, a toupeira de nariz estrelado (Condylura cristata) e o musaranho aquático (Sorex palustris). Como os aromas circulam no ar, pensava-se até agora que o olfacto se perdia na água.
Porém, o estudo agora publicado mostra que pelo menos aqueles dois mamíferos conseguem gerar bolhas de ar que veiculam os cheiros dentro da água. A experiência consistiu em comprovar se as duas espécies eram capazes de cheirar e identificar objectos depositadas no fundo de um tanque, duas das quais comestíveis (lombrigas e peixes pequenos).
Utilizando uma câmara de alta velocidade, o investigador constatou que, ao dirigir-se aos objectos, a toupeira emitia bolhas pelo nariz que tocavam no objecto visado antes de serem de novo inaladas pelo animal. Cinco toupeiras que participaram na experiência com lombrigas conseguiram detectá-las em pelo menos 75 de 100 casos. Keneth Catania também observou vários musaranhos com resultados idênticos.
A técnica usada por estes animais consiste em exalar numerosas pequenas bolhas que depois inalam para extrair moléculas odoríferas. A descoberta "foi uma surpresa total, porque se julgava que os mamíferos n ão tinham sentido de olfacto debaixo da água", afirmou o autor do estudo.
"Quando os mamíferos se adaptam ao meio aquático, o seu olfacto costuma degenerar", acrescentou. "O principal exemplo são os cetáceos, como as baleias e o s golfinhos, a maioria dos quais perderam o sentido olfactivo". Após esta descoberta, o investigador interroga-se sobre se outros mamíferos, como as lontras ou as focas, terão uma capacidade semelhante.
in Ciência Hoje, 21-12-2006
1 comentário:
Este artigo lembra-me os inúmeros animais "perfeitamente" adaptados ao seu meio acabaram por se extinguir. Lembro-me de nós, humanos, convencidos da nossa supremacia.De facto, somos capazes de muitas coisas. A principal diferença, para mim, entre o racional e irracional, é a criatividade.
Temos a capacidade de construir. Mas, de tanto construir, acabamos por criar instrumentos que nos vão tirando as capacidades de cheirar, de tocar, de ver, de ouvir...ao vivo. Isto lembra-me o pior, a super-especialização...é perigosa, ficamos sem margem em grandes alterações climatéricas.
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