sexta-feira, outubro 05, 2007

Doenças da vontade (científica)




Peço desde já desculpa pela fraca qualidade da traduçao livre abaixo apresentada. Faltas de acentuaçao sao devidas ao teclado castelhano.


"(...)Estes ilustres fracassados agrupam-se nas seguintes classes principais: diletantes ou contempladores, eruditos ou bibliófilos, organófilos, megalófilos, descentrados e teorizantes.

Contempladores. - Variedade mórbida muito frequente entre astrónomos, naturalistas, químicos, biólogos e físicos, reconhece-se nos seguintes sintomas: amor à contemplaçao da Natureza, mas apenas nas suas manifestaçoes estéticas: os espectáculos sublimes, as belas formas, as cores esplêndidas e as estruturas elegantes.


(...) Bibliófilos e poliglotas. -Da mesma forma que o micrógrafo se entretém com a diatomácea, ou o zoólogo com as conchas, o bibliófilo deleita-se com a leitura do livro ou monografia novíssimos, que só ele recebe e de que o nosso erudito se serve maravilhosamente para assombrar os seus amigos.


(...) Os megalófilos. - Caracteriza-se esta variedade através de atributos nobres e simpáticos. Estudam muito, mas amam igualmente o trabalho pessoal; possuem o culto da acçao e dominam os métodos inquisitivos, (...) e, no entanto, (...) como se confiassem no milagre, desejam estrear-se com um feito prodigioso.


(...) Organófilos. - Variedade pouco importante de infecundos, reconhecendo-se de seguida por uma espécie de culto fetichista em relaçao aos instrumentos de observaçao.


(...) Os descentrados. - Se o professorado nao fosse entre nós mera escumalha da política, ou o decoroso escaparate da clientela profissional; se aos nossos candidatos a cátedras lhes fosse exigido, em concurso ou exame, provas objectivas de aptidoes e vocaçao, em vez de provas puramente subjectivas e, de certo modo, proféticas, abundariam menos esses casos de actividade oficial entre a funçao retribuída e a actividade livre. (...) Quem nao recorda (...) professores de medicina cultivando a literatura ou a arqueologia, (...) engenheiros escrevendo melodramas, patólogos dedicados à moral (...)?

(...) Os teorizantes. - Há cabeças cultíssimas e superiormente dotadas cuja vontade padece de uma forma especial de perguiça, tanto mais grave que nem os aos próprios lhes parece que tal comportamento lhes possa ser imputado. Eis os seus sintomas culminantes: talento de exposiçao, imaginaçao criadora e inquieta, desvio do laboratório e antipatia em relaçao à ciência concreta e aos feitos pequenos. Pretendem ver em grande e vivem nas nuvens. (...) Em presença de um problema difícil sentem a irresistível tentaçao de nao interrogar a Natureza, mas de formular uma teoria."




Santiago Ramón y Cajal (1832 -1934). Reglas y Consejos sobre Investigación Científica (1898).


(Prémio Nobel da Medicina em 1908, descobriu que o sistema nervoso é composto por bilioes de neurónios, assim como a existência, funçao e mecanismo das sinapses nervosas. Manteve acesa polémica com Camillo Golgi, com o qual partilhou o Nobel.)

1 comentário:

Anónimo disse...

Achei muito interessante (e engraçado)este artigo do Cajal.
Leva quem o lê a querer saber mais sobre a vida e obra deste ilustre cientista.Parabéns.