terça-feira, dezembro 23, 2008

Campanha de Geofísica Marinha - NearSeis 2008


O Hesperides
Foto: Heike Schmidt, ZDF


Tenho andando extremamente ocupado nos últimos tempos, assim como os outros co-autores deste blog, pelo que a escrita tem sido pouco. Entre as várias coisas que andem a fazer há uma que merece ser relatada aqui.
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Estive mais uma vez no mar, desta vez a bordo do Navio de Investigação da Armada Espanhola "Hesperides". O navio saiu de Cartagena no dia 27 de Novembro e aportou no dia 11 de Dezembro em Cádis. Esta campanha, Near-seis, foi realizada no âmbito do projecto NEAREST (Integrated observations from NEAR shore sourcES of Tsunamis: towards an early warning system ) e teve com objectivo a realização de dois perfis de refracção sísmica de alto ângulo. Estes perfis, com cerca de 300 km cada, foram desenhados de modo a cruzar a fronteira as placas Africana e Euroasiática, no local onde se pensa terem sido gerados os sismos de 1755, 1969 e o de 12 de Fevereiro de 2007 (este ultimo eu senti). Também passamos por cima do prisma acrecionário do Golfo de Cádis relacionado com um possível zona de subducção activa aí existente, mas esta é uma outra história para um outro post.
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Basicamente a metodologia foi a seguinte. Passamos pela linha imaginaria marcada no mapa uma primeira vez a largar os OBSs espaçados de 10 em 10 km. A linha tem 300 quilómetros pelo que largamos 30. Os OBSs são estações que se afundam até ao fundo do mar levado consigo um hidrofone, que é o instrumento que vai gravar o eco do som que vamos enviar. A tarefa de pôr os OBSs no mar, estes têm o tamanho de uma pequena maquina de lavar, é complicada especialmente más condições atmosféricas.
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Depois dos OBSs estarem no fundo do mar, alguns deles a mais de 5000 metros de profundidade, passamos uma segunda vez com o barco. Desta vez o barco leva atrás de si um cabo com 8 airguns (canhões de ar) com uma capacidade total de 450 litros. De 90 em 90 segundos todos os canhões disparam de forma sincronizada e dá-se como uma pequena explosão. Esta explosão emite uma onda acústica com frequências muito baixas e comprimentos de onda muito grandes (frequências altas = pouca penetração/alta resolução ; frequências baixas = alta penetração/baixa resolução). Deste modo a onda penetra profundamente na crusta e se tudo correr bem chegará ao manto. Esta onda é, no seu percurso, reflectida e refractada e o seu eco é captado pelos OBSs que estão no fundo do mar. Os dados de cada OBS são posteriormente processados e no final obtém-se um modelo da estrutura da crusta, da localização do Moho, etc.
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O Hesperides e um OBS
Foto: Heike Schmidt, ZDF



Um OBS
Foto: Heike Schmidt, ZDF


Por fim, passamos uma terceira vez pela linha para recolher os OBSs. Esta é a parte mais divertida. Quando estamos em cima do OBS pomos um transdutor na água, que é um objecto que envia um sinal acústico, o OBS "ouve" este sinal e vem para cima. Nas zonas mais profundas pode demorar duas horas. Cada OBS tem uma bandeira e uma luz. Quando chega a hora de ele chegar à superfície vai toda a gente lá fora procura-lo. É especialmente interessante à noite. A tarefa de "pescar" o OBS de 50 kg de modo a traze-lo de novo para navio é extremamente complicada. É ver os marinheiros pendurados quase borda fora com grandes ganchos a tentar apanhar o desgraçado. E a manobra de aproximação do navio também é muito complicada.
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Nos primeiros dias tivemos um mau tempo terrível com enormes ondas, chuva batida de lado e trovoada, que è uma experiência magnífica quando se está no mar. Bhom!!! De repente fica tudo iluminado! Durante muito tempo estivemos proibidos de ir lá fora. Este navio é grande, mas estreito e alto, pelo que farta-se de abanar tipo carrocel (ou maquina de lavar, consoante a direcção das ondas). Estarmos sentados numa cadeira giratória pode ser uma experiência muito interessante. Dormir nestas condições é quase impossível! Vai-se dormindo à uma hora de cada vez e nos instantes em que o navio não está em fase com as ondas do mar.
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Queria acabar dizendo que houve momentos incríveis. Em duas das manhãs, enquanto observava o nascer do Sol (no mar é um pôr do Sol invertido) apareceram dezenas de golfinhos. Foi um espectáculo...
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3 comentários:

Unknown disse...

Que belas imagens!!!!!
E uma partilha de vivência muito enriquecedora!!!!
Votos de novas e extraordinárias VIAGENS!!!!

Joaquim Moedas Duarte disse...

Verdadeiramente fascinante!
Mas... também deverá ter sido extenuante, não?

Obrigado por esta descrição.

Boas Festas, para o João M. e colegas de blogue!

Carlos Faria disse...

Gostei da forma como explicaram a missão, fico a aguardar o post sobre o prisma acrecionário em Cadiz, talvez seja um pouco tarde para desejar um bom natal, mas para geólogo julgo que já ficam satisfeitos com bons frutos da vossa expedição.