Descoberta do "Núcleo Interno" do Núcleo Interno da Terra confirmada
O conhecimento da nossa área do Universo é actualmente enorme, no entanto pode ser infinitamente pequeno se pensarmos na imensidão do Universo. Mas já pusémos robots em Marte, já andámos pela Lua e no entanto conhecemos muito pouco do que está mesmo debaixo dos nosso pés. As pessoas que estudam essa fracção ínfima do nosso Universo são comummente e carinhosamente apelidados de "os gajos que estudam os calhaus", perceba-se geólogos. Os geofísicos livram-se muitas vezes deste mal.
A Terra, o nosso querido planeta, é um planeta vivo, dinâmico, em constante alteração e agitação. O seu interior fervilha, mas pouco conhecemos de facto do que lá se passa. Temos muito poucas formas de "ver" o que está ali em abaixo. Uma das formas, a directa, é fazer um buraco (sondagem) e tirar amostras (amostragem). Tentámos e o máximo que atingimos foram apenas cerca de 12 km, e lembremo-nos de que a Terra tem aproximadamente 6400 km de raio. É de facto muito pouco mas um feito enorme em termos técnicos.
A outra forma de aceder ao interior da Terra é através de método indirectos, em particular utilizando o eco de um tipo de ondas mecânicas, as ondas sísmicas. Note-se que ao contrario das ondas electromagnéticas, como é o caso da luz, que se propagam através de um meio físico, as ondas sísmicas correspondem à vibração do próprio meio. É por isso que sentimos o chão a mexer quando se dá um sismo, o meio está a vibrar e essa vibração é devida à propagação das ondas sísmicas.
Usando as ondas geradas por sismos e utilizando sismógrafos extremamente precisos os cientistas conseguem inferir acerca da estrutura interna da Terra e foi assim que se detectou o núcleo da Terra. Este principio baseia-se no facto de as ondas serem reflectidas e refractadas nas interfaces de meios com elevado contraste de densidades, como é o caso do manto e do núcleo. De forma geral as densidades dos meios estão relacionadas com a sua composição química pelo que também podemos inferir acerca da constituição química do interior do Planeta.
Hoje em dia é mesmo possível obter imagens tridimensionais do interior da Terra utilizado computadores. Foi exactamente isso que uma equipa da Universidade de Illinois fez utilizando a técnica de tomografia tridimensional. Desta forma obtiveram um "imagem" do "núcleo interno" do núcleo interno da Terra, que até agora pouco mais era do que uma especulação muito bem fundamentada (Ver notícia aqui).
A Terra tem um núcleo com cerca de 3400 km de raio, o núcleo interno tem aproximadamente 1300 km e o que esta equipa de cientistas descobriu foi um núcleo interno do núcleo interno com cerca de 600 km de raio. É difícil traduzir "inner inner core"! O núcleo interno interno! :)
Crédito da imagem: Precision Graphics
2 comentários:
Só 1 detalhe, "pusémos", na 3ª linha, acontece aos melhores (até podes corrigir e apagar este comentário, assim ninguém repara).
Como "gajo que estuda calhaus" e com muito orgulho - embora nos açores a classe esteja muito bem conceituada(os únicos reconhecidos como cientistas) por ser a que estuda os sismos e vulcões tão respeitados pelos ilhéus - gostei muito deste post, pois a notícia tinha-me passado despercebida.
Também não acho piada à expressão núcleo interno interno, seria mais correcto núcleo interno interior, núcleo interno inferior ou núcleo interno central (se não descobrirem mais nenhum melhor!), mas certamente que a nossa "ordem" descobrirá uma tradução simpática no seio de uma sessão de trabalho acalorada com vapores etílícos (os vulcânicos são menos agradáveis, embora tenha sido o tema do meu mestrado). Parabéns pelo modo como abordou o tema!
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