sexta-feira, setembro 07, 2007

Porque pode ser tarde


A espécie humana tem-se mostrado nos últimos anos bastante eficaz na procura e acumulação de conhecimento. Basta entrar numa qualquer biblioteca universitária para nos apercebemos que temos matéria para estudar suficiente para nos ocupar por 20 ou 30 vidas. Por exemplo avanços na Física do final do século XIX e início do século XX realizados por Maxwell, Einstein, Bohr e companhia mudaram a nossa forma de “ver” e compreender o mundo, apesar de muita gente ainda não ter dado por isso. Mas esse é o preço a pagar. A transmissão deste conhecimento adquirido só se consegue com bons sistemas de ensino, que praticamente não existem. É certo que tem havido melhorias, mas não chega.

Em oposição à capacidade de adquirir conhecimento, o homem tem-se mostrado muito pouco eficaz na utilização do mesmo, especialmente quando não é do interesse dos grandes grupos empresariais ou porque não interessa a determinados grupos políticos. Os cientistas não têm conseguido passar a mensagem, com culpas de todos os lados. Tem melhorado mas também não chega.

Um exemplo desta falta de eficácia tem sido a forma como o Aquecimento Global tem sido tratado. Apesar de o assunto andar a ser debatido à já alguns anos, só recentemente passou a ser moda. Mas o facto de ser moda tem um problema. As modas passam. E na realidade pouco mais tem sido feito do que algumas reuniões a delinear objectivos baseados em muitos estudos, grande parte deles manipulados pelos ditos grupos para quem Aquecimento Global não é sinónimo de dinheiro ou de mais uns votos.

São precisos mais estudos para compreender melhor qual é de facto a situação do Planeta e da forma como este vai “reagir”. No entanto aqui mais do que em qualquer outro assunto deve ser aplicado o Principio da Precaução, que diz mais ou menos isto: “Quando houver ameaça de danos graves ou irreversíveis, a ausência de certeza científica absoluta não será utilizada como razão para o adiamento de medidas economicamente viáveis para prevenir a degradação ambiental”.

Li ontem numa notícia do Público que o Árctico pode ficar sem gelo já em 2030. Não é daqui a mil anos, nem é daqui a 100 anos, é daqui a pouco mais de 20. As consequências podem ser brutais. A corrente do Golfo irá ser destabilizada e isso poderá ter consequências nefastas globais.

O problema é que esta notícia deixou de ser notícia. O assunto já não é novo e praticamente todos os meses a notícia repete-se nos jornais porque mais um grupo de cientistas veio defender esta previsão.

É portanto imperativo que se tomem medidas urgentes, aplicando o Principio da Precaução. E podem ter a certeza que não é poupando um bocadinho de electricidade em casa que vamos resolver o problema. As medidas têm de ser tomadas conjuntamente a nível global por quem tem o poder e cabe a nós pressionar essas pessoas ou instituições. Temos de exigir aos nossos políticos medidas claras e efectivas e não o blá blá blá do costume.

Já temos o conhecimento necessário para detectar problemas deste tipo e resolve-los. A inércia é enorme, mas à que agir.

O Planeta, esse, irá adaptar-se, mesmo que as consequências sejam negativas para a nossa espécie e para as milhares de espécies que gentilmente temos vindo a extinguir.

5 comentários:

avelaneiraflorida disse...

Excelente!!!!!

Uma reflexão muito importante, que todos NÒS, HUMANOS, deveríamos fazer por imperativos de SOBREVIVÊNCIA!!!!
O Problema é que "andamos" muito mais preocupados com os nossos "umbiguinhos" ,os lobbies de toda a espécie e feitio, o vil metal que faz "mover" o círculo vicioso dos interesses...
Esquecemo-nos de que somos apenas "INQUILINOS" no planeta TERRA e que os desequilibrios que andamos a promover se irão voltar contra nós...não já, mas daqui a bem poucos anos!!!!

"Brigdaos", João, por este post!!!
Pena não poder fazer-se dele um Outdoor e colocá-lo em todas as praças e ruas de todo o mundo!!!

Carlos Faria disse...

O aquecimento global neste momento não é apenas uma moda, é um argumento comercial ja a ser utilizado por multinacionais, desde a indústria automóvel à energética (não petrolífera),passando pela dos electrodomésticos, etc. o ser ecológico (muitas vezes sinónimo de poupar energia ou reduzir emissões) vende! Infelizmente a introdução destes princípios nas multinacionais e na classe política nacional não é altruista, mas sim comercial ou propagandista, mas se tal acontece, é porque existem clientes que já abraçaram conscientemente a causa. Mas se for tarde e se Gaia se revoltar contra a humanidade, seremos os dinossauros das criaturas que no futuro ocuparem o nosso lugar na evolução da vida. Seremos os heróis das suas exposições e provavelmente alguém fará um Parque Holocénico.

João Marcelo disse...

Este post merece muitos comentários:

É verdade que os conhecimentos científicos que a humanidade possui são muito extensos. Mas são, também muito ambíguos. Não é difícil encontrar cientistas que afirmam que o aquecimento global não tem a relevância que outros lhe procuram dar, como também não é difícil encontrar muita controvérsia sobre as causas que têm originado o aquecimento global.

O desacordo dentro do meio científico faz-me, por vezes, duvidar da ideia que é passada neste post, segundo a qual os cientistas, em geral, situam-se acima, ou desligados, de quaisquer interesses. Não é de hoje que encontramos manifestações dos dois mais poderosos interesses individuais (egoístas, os tais dos "nossos umbiguinhos"): o poder político e o poder económico. Tal como não podemos pensar que os cientistas nunca estão ao serviço desse mesmos interesses (ex.: o aeroporto da Ota/Alcochete).

Juntando estas duas reflexões, confesso-vos que acredito que a humanidade possui os conhecimentos científicos necessários para, no último momento, fazer reverter a degradação do planeta, quando tal se tornar política e conomicamente vantajoso.

O que nos cabe a nós fazer? Como escreveu o autor do post, "pressionar" as pessoas que têm o poder, ou seja, formar um "lobbie" ecológico (não é novo e nem sempre a palavra lobbie tem de ter uma conotação negativa). Puxando a brasa à minha sardinha, temos de ser cidadãos activos e participativos, temos de praticar a democracia!

Escrever num blogue é um começo, mas não o único. Escrever cartas para um jornal, assinar petições, distribuir publicações periódicas... criar dentro de um partido político uma "facção ambientalista", podem ser boas formas de intervirmos nesta questão.

Joaquim Moedas Duarte disse...

Há mais de trinta anos um autor francês, Roger Garaudy, publicou um livro que fez furor, tal como o de Al Gore. Intitulava-se "APELO AOS VIVOS".

Foi considerado alarmista por uns, mas foi levado a sério por outros. A verdade é que hoje temos uma consciência dos problemas ambientais bastante diferente, para melhor.

Para mim o grande problema da humanidade continua a ser este: há uma enorme disparidade entre a consciência individual e a consciência colectiva. É como dizia um general de Napoleão: "Os exércitos marcham à velocidade dos mais lentos." Pode haver grupos detacados, vanguardas esclarecidas. Mas são os mais lentos, porque mais numerosos, que marcam o ritmo.

Rui M disse...

Parece que o passado dia 18 estabeleceu finalmente o novo recorde de extensão minima de gelo de verão no ártico. Esperemos que seja um anomalia negativa esporádica e nãoo uma nova tendência...

http://www.nature.com/news/2007/070917/full/070917-3.html