Desemprego Jovem, Capitalismo, Jesus e outras coisas..
A revista Time desta semana tráz um artigo interessante chamado “The Jobless Generation”. Seria um excelente artigo se não estivéssemos a falar de uma bomba relógio. Vamos a factos. A taxa de desemprego na Grécia e em Espanha situa-se entre os 21 .0% e os 23.6%. A taxa de desemprego jovem (jovens desempregados com menos de 25 anos) está neste momento entre os 50.5% e os 51.1%, e a subir a um ritmo dramático. Podia-se pensar, como alguns seres inteligentes se atreveram a pensar, que a solução é a exportação de jovens. O problema é que não dá. Países como o Reino Unido e a Suécia, que têm taxas de desemprego geral abaixo de 10% já estão com uma taxa de desemprego jovem a roçar os 25%, e a subir. Com o desemprego jovem a alastrar desta forma por todo o mundo ocidental daqui a um par de anos vamos mandar os jovens para onde? Para a Lua? Para Marte? Talvez se descubra um “wormhole” para exportar jovens para uma outra Galáxia na qual os seres inteligentes sejam verdadeiramente inteligentes. Talvez aí os empregos cosmológicos abundem.
E como estão os magníficos crânios eleitos pelo povo a gerir a situação. Ignoram! Há uma urgência maior: salvar a divina Economia. Agradar os “mercados”. Dito por outras palavras: salvar o capitalismo selvagem que se apoderou das sociedades ocidentais nos últimos anos. Ora pelo que se está a ver não está a resultar. E aqui ficam umas questões. Será que este sistema é de facto o melhor? Será que este capitalismo que levou uma facada mortal em 2008 ainda pode ser ressuscitado? Vamos assumir que sim. Pelo que se está a ver, tal coisa pode demorar vários anos. Era 2013, depois 2014 e agora 2015 que aparentemente é o ano imediatamente a seguir a 2014. A julgar pela coerência intelectual das pessoas em causa imagino que seja lá para 2020. E que seja. Ok! Em 2020 invertemos a trajetória deste magnífico trambolhão. Quanto tempo vai demorar até que a coisa volte ao ponto em que estava antes do início da crise? Num cenário otimista provavelmente uma meia dúzia de anos. E o que vamos fazer a esta geração até lá? Atualmente, de acordo com Organização Internacional do Trabalho o número total de jovens desempregados abaixo dos 25 anos é de 75 Milhões! A este ritmo qual será o número no final da crise? Será este um preço justo a pagar para salvar essa entidade abstracta chamada “Economia”? Será este um preço justo a pagar para salvar os bancos dos amigos? Estamos a falar de pessoas e não de iates e apartamentos nos Algarve. Posso estar enganado mas isto parece-me uma bomba relógio! E é bom lembrar que as revoluções são geralmente desencadeadas por pessoas desta camada etária. Uma sociedade que abandona os seus jovens é uma sociedade doente, senil e estúpida.
Nos últimos dias fui bombardeado na minha parede do Facebook com imagens de Jesus cheias de corações e mensagens de paz, amor e esperança. Excelente. Nada a dizer. É um efeito positivo de 2000 anos de romantização e distorção histórica. Ao contrário do que alguns dos meu amigos pensam, eu sou um crente. Creio em Jesus, o homem. Jesus foi acima de tudo um revolucionário pacífico. Um homem que se atreveu a desafiar a autoridade instituída que dominava o mundo civilizado do seu tempo. Desafiou o poder económico da altura, pregou uma mensagem de igualdade e justiça. O homem estava de novo ao serviço do homem. Foi essa a grande mensagem de Jesus. Fê-lo de forma pacífica e exemplar, e morreu a defender as suas convicções. Aliás, como muitos monges Tibetanos têm feito nos últimos meses (coisa que não me aparece no Facebook) e como recentemente um reformado fez ao dar um tiro na cabeça em frente ao parlamento grego.
Os jovens de hoje sentem-se abandonados por um sistema que lhes prometeu o que agora lhes é negado. O Capitalismo foi exímio a garantir uma excelente qualidade de vida a uma geração mas falhou redondamente na geração seguinte. Não tenho soluções milagrosas e não acredito em milagres. No entanto, parece-me claro que estamos no caminho errado. Uma sociedade que abandona os seus jovens é uma sociedade condenada ao fracasso, onde as palavras paz, amor e esperança se tornam vazias. Um perfeito suicídio.
João Duarte
13 de Abril de 2012
Melbourne, Austrália
Nota: Com este post quebrei a regra de evitar discutir política neste blogue, mas a estupidez, desonestidade intelectual e principalmente a falta de ética e de coragem dos nossos governantes (a nível nacional e internacional) está a atingir um nível tão elevado que valores mais altos se levantam. Estamos dormentes mas não estamos mortos. Os jovens não são o problema, são a solução..
3 comentários:
Não se pode ficar indiferente perante este texto-denúncia-desabafo-grito de revolta.
O que João Moedas denuncia é a cegueira política que está a levar a sociedade para o abismo. Nas palavras dele ecoa esse texto medonhamente lúcido de Saramago, "Ensaio sobre a Cegueira". Ou um outro, mais antigo que pegava na mesma metáfora, de Alves Redol, o "Barranco de Cegos".
Como pode sobreviver uma sociedade que não tem espaço para os mais novos e deixa morrer os mais velhos e pobres ao abandono? Que deixa descer a taxa de natalidade para níveis de pesadelo?
Porque o problema não se centra só nos jovens - esse é, quanto a mim, o ponto frágil do texto de João Moedas. O problema percorre toda a sociedade quando os números da desigualdade sobem vertiginosamente atingindo todas as faixas etárias. Sim, há uma franja social - a chamada classe média ( alta, média/alta...)que ainda se vai safando. Mas a maioria da população resvala para a pobreza.
E estamos a falar na Europa. Porque a África, a América Latina e muitos países do Oriente vivem há muito em níveis desumanos de pobreza.
Muito longe isto nos levaria, não acabaríamos nem que estivéssemos a jantar no Gordo até de madrugada...
Guardei para o fim a referência a Jesus. Comovente, sentida, essa evocação que João faz deste homem que tem sido desculpa para muitos crimes cometidos em nome dele.
Jesus foi revolucionário porque pôs em causa um paradigma que na altura era intocável: a economia baseada no esclavagismo. Veja-se o tempo que demorou a mudar: no séc. XIX ainda havia escravos legais. (E hoje ainda os há...contra a lei universal)Mas o paradigma mudou. Esse é o problema do nosso tempo: é uma questão civilizacional. Só uma rutura, uma revolução, - uma grande guerra? - levarão a uma nova sociedade, sem exploradores, de dimensão humana, respeitadora do equilíbrio ambiental (de que hoje pouco se fala...
Acabo, tenho de ir andando. Obrigado João pela tua reflexão.
Abraço
JMD
João, subscrevo praticamente na íntegra o que escreves. Dia a dia, a revolta cresce. Infelizmente, julgo uma grande percentagem dos 75 milhões que falas, ainda não percebeu completamente o que lhes espera pela frente. Porque pensam a um prazo curto. No caso de Portugal, a restante população continua, ignorando alegremente, reclamando aqui e acolá consoante o que lhe afecta directamente. Se tocar ao vizinho do lado ninguém tem nada a ver com isso. Esquecem-se que será apenas uma questão de tempo. Pessoalmente, ando bastante deprimida com ver o meu País recuar no tempo cerca de 50 anos. Assustada com noticias tal como as que vêm de Espanha em que se tencionam criminalizar acções de expressão de opinião. E depois neste esquema de falsa democracia (para mim, democracia é quando eleges representantes e se eles não agem em conformidade com o que os fez ser eleitos, deixam de o ser, o sistema deveria de prever essa situação) quem quiser fazer algo que possa alterar o que vai em curso é completamente ostracizado. Em relação ao que dizes de Jesus, partilho também a tua opinião. Ser cristão conforme a Igreja Católica quer e acreditar nos valores professados por Jesus são duas coisas completamente distintas. Jesus, Buda, Ghandi e mais uma data deles... Seria bom que resgatássemos esses valores, essa vontade de mudar. Força João.
P.S. Atrevo-me a dizer que a Páscoa é uma "história da carochinha", afinal a data e pormenores foram estabelecidos pelos Romanos no conselho de Niceia de modo a cair em cima de celebrações festivas de diferentes culturas. Na realidade, há quem argumente até que Jesus sobreviveu à crucificação. Os tais anos pós que ninguém sabe, tal como os anos antes, que a Bíblia salta, porque não lhe interessa detalhar.
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