quarta-feira, julho 30, 2008

Notícias pela net

Phobos - Que grande razia!


No passado dia 23 de Julho a nave espacial Mars express passou a apenas 93 quilómetros de distância de Phobos, uma das duas luas, e a mais interior, de Marte. Phobos é um corpo irregular com cerca 27 quilómetros de comprimento máximo e orbita o seu planeta a apenas 9400 quilómetros do seu centro. Phobos tem uma composição semelhante à dos condritos carbonáceos, no entanto devido à sua baixa densidade (2 g/cm^3) pensa-se que deve ser bastante porosa e que possa conter grandes quantidades de gelo no seu interior.
Fonte: ESA
Crédito da Imagem: ESA/ DLR/ FU Berlin (G. Neukum)
Mais sobre Phobos: aqui

Sol da meia-noite em Marte


Crédito da Imagem: NASA/JPL-Caltech/University of Arizona/Texas A&M University
Fonte: Phoenix Mars Mission

segunda-feira, julho 28, 2008

O que fazemos (I)


Pois é! Hoje fui cortar o cabelo! Não fui ao barbeiro castiço que tenho aqui ao lado porque aquilo é para machos latinos a sério, nem fui à cabeleira em frente pois dizia ..para senhoras! Andei mais um pouco ao longo da minha rua e encontrei um cabeleireiro para homens assim meio escuro por fora. Fui à aventura e entrei. Lá por dentro era um pouco chique e pensei logo: este deve ser caro! Mas como só corto o cabelo de três em três anos, mais coisa menos coisa, decidi corta-lo mesmo ali. A casa chamava-se Cabeleireiros Tony, não sei se é uma rede, mas pelo menos o senhor com ar de Quim Barreiros chamava-se António. Quem me atendeu foi a sua senhora, que estava na entrada e parecia ser ela que controlava o negócio, ele era o artista.

Depois de esperar um pouco, sentei-me na cadeira e disse: é para cortar tudo! Como sou uma pessoa tímida fico sempre sem saber o que fazer naquelas situações. Vou ter de estar ali 20 minutos com um homem a mexer-me na cabeça pelo que o silêncio pode ser uma coisa bastante confrangedora. Então resolvi, de forma um pouco improvisada, falar do que fazia. Aproveitei a deixa do cabelo dizendo que tinha de o cortar pois, como sou geólogo marinho, no Verão costumava ir para o mar e o cabelo comprido não dava muito jeito. Ele falou-me logo de um programa que tinha acabado de dar na televisão sobre a matança de golfinhos na China. Eu pensei: qual foi a parte de “geologia” que o senhor António (Tony) não percebeu? Não sei se ele sabe o que é um geólogo mas pelo menos usou a palavra correcta o resto da conversa. Talvez por não ter a certeza interrogou-me: vocês têm falta de emprego não é? Típico! Pelo que respondi: sim, mais ou menos, as coisas estão a melhorar, a falta de petróleo e o aumento do preço dos metais têm ajudado. E pronto, fez-se ali uma bela conversa. Falei-lhe que estava a trabalhar no Golfo de Cádis e que estudava a falhas que geravam os sismos, como aquele de 1755. Disse-lhe que tinha cartografado a estrutura que gerou o sismo de Fevereiro do ano passado e ele comentou logo: Oh homem! Não me lembre disso! Se soubesse o que foi em 68.. Eu respondi mais ou menos ao mesmo tempo que a esposa do senhor António (Tony): 69, foi em 69. Ele concordou mas disse-me que preferia não falar em terramotos pois de alguma forma tinha a noção que caso haja um não haverá muito a fazer. Continuámos, falámos na reabertura das minas e eu de vez em quando lá me esquecia que estava a falar com um cabeleireiro e mandava uma posta do tipo: mas é nos nódulos de manganês do fundo do mar que está o futuro. O homem fazia uma cara estranha e eu lá voltava a falar numa coisa mais interessante. Foi uma experiência sociológica interessante e saí de lá com um belo corte de cabelo.

O leitor deve estar neste momento a pensar: porque raio está um dos autores deste blog a falar na sua ida aos cabeleireiros Tony? Bem a ideia surgiu quando estava a fazer o jantar e decidi fazer uma série de posts sobre o que faço cientificamente. Como já deve ter reparado o pessoal daqui é formado em geologia (o estudo do planeta Terra) e a maior parte de nós trabalha nessa área. Pois será sobre disciplinas da geologia que irei falar. Serve este post de introdução. (Desafio os outros autores a escreverem um pouco sobre o que fazem também, se tiverem tempo claro :) ). E como é bom sentir de novo o vento na cabeça!

Imagem: daqui

sábado, julho 19, 2008

Subducção (Parte I) - Zonas de Subducção e Tectónica de Placas

O planeta Terra apresenta actualmente um camada externa sólida (litosfera) fragmentada em diversas placas que se movem umas em relação às outras com cinemática convergente, divergente ou deslizando lateralmente umas em relação às outras (limites destrutivos, construtivos e conservativos, respectivamente), sob a astenosfera mais dúctil. Uma zona de subducção é uma área do planeta Terra onde duas placas tectónicas com cinemática convergente se encontram e uma, geralmente a mais densa, afunda sob a outra em direcção ao manto. As placas oceânicas normalmente mergulham sob as placas continentais ou sob outras placas oceânicas menos densas. Em geral, este fenómeno dá origem a uma zona orogénica e/ou a um arco vulcanico.

Uma ideia paradigmática da Teoria da Tectónica de Placas é a de que é a convecção mantélica que faz mover a litosfera, arrastando as placas tectónicas e permitindo assim o seu movimento. Esta ideia paradigmática está enraizada no seio da comunidade científica e continua a ser introduzida nas disciplinas de introdução à tectónica de placas como um facto aceite. Actualmente, vários cientistas pôem em causa este paradigma afirmando que o manto convecta essencialmente devido ao afundamento da litosfera nas zonas de subducção e que as plumas mantélicas correspondem a um modo secundário da convecção mantélica (Stern, 2004; Hager & O’Connell, 1981; Davis & Richards, 1992). Apesar da base dos continentes poder ser parcialmente arrastada devido à convexão do manto, a ideia pioneira de Forsyth & Uyeda (1975) de que é o excesso de densidade da litosfera junto às zonas de subducção, o afundamento desta e consequente roll-back, que provoca o movimento das placas é hoje fortemente suportada pelos dados geofísicos (Davis, 1992; Anderson, 2002; Conrad & Lithgow-Bertelloni, 2002). A flutuabilidade negativa da litosfera oceânica resulta do aumento da densidade dos silicatos que a contituiem à medida que a temperatura diminui juntamente com o facto de a litosfera espessar à medida que se torna mais antiga. A listosfera torna-se mais densa que a astenosfera subjacente cerca de 20 a 30 milhões de anos depois de se formar nas zonas de rifte (Davis, 1992; Oxburgh & Parmentier, 1977). Após esta fase a densidade da litosfera continua a aumentar bem com a sua massa devido à acumulação de sedimentos no fundo marinho. Esta litosfera torna-se a assim instável e a subducção de lajes de litosfera antiga e densa na astenosfera surge em consequência da necessidade de a Terra manter o seu equilíbrio dinâmico (Stern, 2004). O movimento do manto dá-se porque a placa ao mergulhar arrasta consigo o manto que se encontra sob a laje e suga o manto que se encontra na sua frente (ver figura). Este processo provoca, indirectamente, a ascenção de material mantélico sob as dorsais oceânicas (Hamilton 2003). Lithgow-Bertelloni & Richards (1995) estimam que 90% da força necessária para mover as placas tectónicas é gerada devido ao afundamento da litosfera nas zonas de subducção, sendo que os outros 10% têm origem nas zonas de rifte em consequência do alastramento oceânico (ridge push).

Bibliografia: em construção

Próximos posts sobre o tema (brevemente):

- Quando é que o processo de subducção se iniciou no planeta Terra?

- Como se inicia uma zona de subducção?

quarta-feira, julho 16, 2008

Marte - Echus Chasma


CLICAR NAS IMAGENS PARA VER EM GRANDE

As imagens de Marte não param de surpreender! Estas foram adquiridas pela High-Resolution Stereo Camera (HRSC) que se encontra a bordo da sonda espacial Mars Express. As fotos do Echus Chasma mostram um sistema de drenagem muito semelhante aos que se encontram aqui na Terra. Os cientistas ainda não têm a certeza se o líquido responsável pela modelação deste objecto morfológico é água de precipitação atmosférica, água subterrânea ou magma. Apesar das hipóteses ainda estarem em aberto tudo leva a crer que se trata de facto de água, muita água, já que alguns destes desfiladeiro podem atingir os 4 km de profundidade.

Crédito da Imagem: ESA/ DLR/ FU Berlin (G. Neukum)

Ver e ler mais aqui

Cometa W1 Boattini visível nos céus este mês


O Cometa C/2007 W1 Boattini pode ser observado no hemisfério norte a olho nu durante a madrugada dos meses de Julho e Agosto de 2008. Uns binóculos talvez ajudem! Ver aqui uma imagem do cometa tirada por Francois Kugel.
Mais aqui
Fonte daqui

terça-feira, julho 15, 2008

Pedro Fernandes - Illustrating Birds

Ontem o RuiM envio-me este link. Disse: vê lá isto. Foi isso que fiz e tive um bela surpresa. O meu amigo Pedro Fernandes (mais conhecido entre os amigos por PeF) a fazer o que gosta e o que melhor sabe fazer: desenhar. O mais incrível nos seus desenhos é a vida que ele lhes consegue dar. O Pedro fez o curso de Geologia na FCUL, onde o conheci. Era um pouco mais velho que eu pelo que não tivemos aulas juntos. No entanto, tive oportunidade de participar em escavações paleontológicas com ele. Foi um prazer! Passamos grandes momentos e fizemos belas descobertas. O Pedro pegou na mala e foi para as Américas tentar a sua sorte na área da ilustração científica. É impossível expressar o quanto fiquei contente por saber que ele está a fazer o que mais gosta e que as pessoas o valorizam por isso. Sempre soube que ele era um fora de série no que faz e aqui deixo este post sobre um amigo que também é um fora de série como pessoa. Um abraço PeF

domingo, julho 13, 2008

Um Monstro Cósmico


Este "monstro cósmico" tem cerca de 300 anos-luz de diâmetro e expele um "vento" constante de partículas pesadas que pode atingir 7 milhões de quilómetros/hora. É uma complexa nebulosa denominada N44 situada no aglomerado estelar NGC1929. Ter-se-á formado aquando da explosão de diversas supernovas localizadas no centro do aglomerado.

quarta-feira, julho 09, 2008

Fronteiras em Geologia: Mineralogia e Geoquímica na Medicina.


Sendo a Geologia uma disciplina científica cujas origens são muito antigas, não é de estranhar a elevada homogeneidade dos programas das várias licenciaturas existentes por todo o mundo. De facto, se perguntarmos a qualquer estudante de licenciatura quais são para ele os principais ramos da Geologia, a resposta será bastante parecida, independentemente da universidade onde estude. Nomes como Paleontologia, Estratigrafia, Mineralogia, Petrologia ou Geologia Estrutural despertam o nosso peculiar sentido de compartimentação do conhecimento, e a transmissão de saber nestas áreas constitui o fundamento da manutenção daquilo que podemos designar como a "identidade científica" da Geologia. No entanto, esta tradição não representa o limite das possibilidades de investigação de uma pessoa com semelhante formação científica. Longe disso. Para lá do (para mim, excessivo e perigoso) culto à tão propalada actividade inter-disciplinar, os geólogos têm coisas importantes a dizer no âmbito de assuntos tão díspares como realogia dos materiais sólidos, prevenção e remediação ambientais, ciências agrícolas, astronomia, ou a medicina.

A edição de Dezembro de 2007 da revista Elements (publicação mensal que versa sobre temas de Mineralogia, Geoquímica e Petrologia) foi dedicada na sua totalidade a artigos relacionados com a Geoquímica e Mineralogia em Medicina. Os assuntos abordados, como se pode ler na capa, não soam estranhos ao ouvido geológico mais tradicional: mineralização de ossos e dentes, interacções entre proteínas e superfícies de minerais dos solos, potencial tóxico de pós de minerais, pedras dos rins, são alguns exemplos.

De entre os vários excelentes artigos incluídos nesta edição, há um que considero particularmente interessante, de Jeffrey Wesson e Michael Ward, cujo título é (traduzido para Português) "Biomineralização patológica de pedras dos rins". Neste estudo, os autores procuram as razões pelas quais o oxalato de cálcio monohidratado (COM) forma agregados e, portanto, origina patologias renais, e o dihidratado (COD) permanece em cristais soltos no seio da urina. Grande parte dos conceitos científicos manipulados para levar a investigação a bom porto são do foro da Mineralogia, Cristalografia e Geoquímica.

Esquerda (COM) http://images.google.com/imgres?imgurl=http://scienceroll.files.wordpress.com/2007/09/calciumoxalatemonohydrate.jpg&imgrefurl=http://scienceroll.com/2007/09/05/kidney-stones-and-photography/&h=300&w=400&sz=17&hl=pt-PT&start=7&um=1&tbnid=kxvmD-izmM8EaM:&tbnh=93&tbnw=124&prev=/images%3Fq%3Dcalcium%2Boxalate%2Bmonohydrate%26um%3D1%26hl%3Dpt-PT%26lr%3D%26sa%3DG

Direita (COD) http://diaglab.vet.cornell.edu/clinpath/modules/ua-sed/images/ox-di.jpg


Já agora, parece que a resposta ao problema reside na maior força de adesão entre as moléculas orgânicas da urina e a principal face do COM. Essas moléculas orgânicas com cadeias laterais iónicas promovem por sua vez a adesão mais forte entre os cristais de COM entre si, formando agregados estáveis, que podem obstruir os canais dos rins gerando patologias. A adesão das moléculas orgânicas sobre a face mais importante do COD, pelo contrário, é muito mais fraca, de forma que os agregados deste cristal são muito instáveis e raros. Assim, o carácter "benigno" e "maligno" de cada um dos minerais é controlado pelas incidências cristalográficas deste processo de interacção. O desenvolvimento de técnicas de cura e prevenção destas doenças passa pela obtenção deste tipo de dados.